O tropeiro que não era aranha nem caranguejo
Autor: Mouzar Benedito
Editora Limiar
www.editoralimiar.com.br
ISBN 978-85-88075-27-6
Tamanho 14 x 21cm
Ilustração: Bira Dantas
Tempos e costumes idos, ficou a história.
Início do século passado. No intervalo entre as duas grandes Guerras, o jovem roceiro Marcelino divide-se entre um amor que acredita não merecer por seus impulsos a uma vida agitada de tropeiro, cheia de aventuras, tiros e farras em casas de mulher-dama, no então despovoado interior de Minas e Goiás.
“Marcelino, a sua história até parece um filme”. Eu ouvi, mas cortei logo esses pensamentos.
Embora esta decisão de Marcelino, o tropeiro, a princípio parecesse definitiva, já eram os anos 70, há muito seus segredos não fariam diferença na sua vida nem na de ninguém, a não ser na do garotão, curioso feito jornalista, que queria porque queria ouvir a sua história.
A história da vida de Marcelino era segredo a todos, a não ser do pároco da cidade e da Ofélia. O que um homem não faz por uma mulher, quando está apaixonado? Esta pergunta tem me batido na cabeça há muito tempo. E quando a paixão é correspondida, pior: a gente a vive com intensidade, é uma fase boa, depois ela passa, mas fica o amor. E por conta deste amor, Marcelino mudou toda a sua vida, de maluco, doido, tropeiro, freqüentador de puteiro e cachaceiro, para o homem pacato e cumpridor dos seus deveres que é.
Considerando os anos que se passaram, a curiosidade e a alegria que viu estampadas no rosto daquele jovem, por conta dos fatos que iam sendo desfiados, Marcelino começou falando da cidade Vila Nova de Resende, desde que era apenas um povoado no interior de Minas, nas primeiras décadas do século 20, os seus costumes, a sua gente e principalmente a política do Partido Republicano Mineiro, que dominava e dividia o poder na região com suas facções - a facção dos "aranhas" e a dos "caranguejos".
Marcelino contou tudo, de onde surgiram os coronéis, a quebra da bolsa de Nova York - um troço que acontece lá longe atrapalha nossa vida aqui - a morte de João Pessoa, o fim da política café-com-leite, a revolução de 32, fatos da Aliança Liberal, e enquanto falava, tomava uma caneca de leite tirado na hora batizada com conhaque. Bom lembrar de batismo, a igreja proibiu Marcelino de comungar: foi a igreja ou o padre? Isso já é outra história.
Com este enredo cativante, Mouzar Benedito nos prende do princípio ao fim neste belo romance, que nos remete à saudade dos tempos idos e dos costumes de uma geração que não volta mais. A vida do tropeiro Marcelino é marcada pelos acontecimentos políticos do Brasil da primeira metade do século XX, em suas andanças, percebe como o país se modifica, mas a política dos coronéis parece sempre a mesma, destinada a explorar os menos favorecidos.
Aliando história factual, ficção e uma pitada de humor, "O tropeiro que não era aranha nem caranguejo" lançado pela Editora Limiar, foi premiado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, na seleção de romances do PAC (Programa de Ação Cultural) de 2007.