Rita Lee e eu.
Presunção falar da minha dor por perder você, Rita
Há milhões sufocados por essa angústia
Que lhe foram mais fiéis
Confesso que na imaturidade
Me senti traída por ti quando apaixonada, nos deu as baladas de amor
Ah, mas como são lindas
Meu bem, você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras
Amar e se entregar ao amor, a ele prestar devoção
Ah! isso requer muita coragem
Ô Rita corajosa!
Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte
Eu não, mas dou graças que você teve sorte.
Falar verdades sobre nossos pais publicamente,
É uma coisa dificílima de se fazer
Só ovelhas negras têm essa coragem
Ô Rita corajosa!
Minha parede do quarto é rosa choque
Com você aprendi muito sobre dizer: não provoque
Tanto quanto aprendi: a lançar perfume e convidar
Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo...
Para cada fase dos meus anos,
poderia citar uma canção sua que a embala
Ou as polêmicas que chacoalham a vida e a dão graça
Adoro MPB
E lá estava você pesquisando
Ah música popular brasileira!
Tudo tava muito sério, né?
E você versava
Martinho vem da Vila lá do fundo do quintal
Tornando diferente aquela coisa sempre igual
Ô Rita corajosa!
Mas saudosa, pra terminar essa prosa
Vou voltar ao começo
1979, eu com 14, falando muito
Ôrra meu!
Ôrra meu!
Que saudade, eu começando a vida, mas cantando:
Eu tô ficando velho,
Cada vez mais doido varrido
Roqueiro brasileiro,
Sempre teve cara de bandido!
Vou botar fogo nesse asilo,
Respeite minha caducagem
Porque essa vida é muito louca
E loucura pouca é bobagem
“Roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido” - essa nossa sociedade hipócrita é uma piada, né, Rita? Sempre foi...
E pra aguentar tanta chatice espalhada,
Só com toda a coragem que você carregava
Pra mudar a ordem.
Imagino que não foi fácil ser Rita Lee
Principalmente quando penso que jovenzinha, na humildade você conversava com São José, meu santo de devoção
Porque será, meu bom José
Que esse teu pobre filho um dia
Andou com estranhas ideias
Que fizeram chorar Maria?
Me lembro às vezes de você
Meu bom José, meu pobre amigo
Que desta vida só queria
Ser feliz com sua Maria
Não sei o que, Rita Lee, dessa vida você mais queria
Não sei mensurar o quanto custou tanta coragem
Mas sei que mesmo agora quando você dessa vida parte
Ainda fará muita gente feliz
Com a sua eterna arte.
É, esse texto podia parar aqui,
Que final bonito!
Mas como sua cria dos anos setenta
Me vem aquela veia de esculhambação que me obriga dizer:
Ô Rita volta desgramada!
Por Eliana de Freitas
@eliana.das.letras