No dia que Renato Russo morreu.
Dei aula em muitas faculdades, mas o SENAC de Águas de São Pedro foi um lugar especial.
Entre mil coisas que aprendi enquanto estive em Águas, um episódio marcante foi no dia em que Renato Russo morreu, 11 de outubro de 1996, uma sexta-feira.
Até aquela data eu não gostava dele, achava-o muito deprimido, sem quase nada a dizer. Peguei a estrada, pelo rádio soube de sua morte e não senti.
Quando cheguei ao Senac muitos alunos estavam chorando, se descabelando e a maioria veio em cima de mim dizendo: professora, hoje não pode ter aula, o Renato morreu, nós não temos cabeça.
Eu calmamente ouvi os protestos e segui minha direção à sala, pensando: hoje é a última aula antes da prova, ou eu consigo fazer revisão com essa turma, ou eles tirarão notas baixas e quem vai se ferrar sou eu, tendo que vir dar recuperação; minha mãe do céu, me ajude!
Os alunos viram que eu não parava, entraram na sala xingando, protestando, só não me chamaram de santa. Eu calmamente arrumei minhas coisas na mesa, me voltei ao quadro negro e pensei: Renato, seu desgraçado, é por sua causa essa balburdia, resolva isso. Na mesma hora sem pensar, peguei o apagador, apaguei toda a lousa, tomei o giz e escrevi em letras garrafais: Disciplina é liberdade!
Os alunos foram lendo a frase, alguns começaram a chorar baixinho, todos ficaram quietos, acabei me emocionando também. Eu não tinha consciência de conhecer tão bem essa célebre frase, muito menos, o devido crédito ao autor.
É... o poeta se fez presente, nunca mais pude esquecê-lo.
Fora essa, têm muitas outras histórias.
Oh! que saudade eu tenho de ser professora; quanta coisa eu aprendia.
Eliana de Freitas
Enviado por Eliana de Freitas em 30/04/2007
Alterado em 12/05/2009