Vou fugir da coisa.
- Uma hora eu escapo! Você vai ver.
- Escapa nada, sou mais forte que você.
- Forte? Forte... Você não é forte nada, se entrega a qualquer coisa.
- Não me entrego a coisas, que idéia é essa? Me entrego a pessoas, ideais, sonhos, não a coisas. Você nem sabe o que são coisas.
- Coisas é tudo aquilo que leva o nada ao lugar algum. Ou que de tão insignificante que são, não merecem nome: são coisas.
- E por que tudo tem que ter propósito, significado, êxito, ou ser mensurável?
- Porque se não, fica igual a cachorro correndo atrás do rabo, só levanta poeira e deixa rastro; mais nada acontece ou fica.
- E quando você escapar, como será?
- No começo, rápida vou andar, nem vou olhar para trás, vou fixar um ponto no horizonte e nessa direção correr sem cessar.
- E quando lá chegar?
- Sento, descanso e tomo um gole de vida.
- E o que terá nesse gole?
- Não sei ao certo...
- Qualquer coisa, talvez?
- Não me venha com essa, você está me manipulando.
- Estou não, você ainda não sabe o que quer. Não sou eu que sou forte, é sua vontade que ainda está fraca. Pare de tentar fugir, eu nem tenho tentado segurá-la, você é que não sabe para onde ir.
- Você é uma coisa!
- Sim; sou; sou a sua coisa, estou contigo e não abro. Eu não vou embora; mas se você um dia for, eu posso ficar, basta que você me esqueça, consegue?
- Eu ainda vou tentar.
- Quando?
- Ah não sei, que coisa!