Eliana de Freitas

Que histórias são essas?

Textos

Despedida de Rolando

A bênção, Senhor Brasil!

Preciso de sua bênção, meu brasileiro querido.

Que palco vai sobrar pra gente como a gente?

Gente que gosta desse chão,

gente que gosta dessa gente que trabalha, que ama, que tira tempo pra dois dedos de prosa, que gosta de cantoria de viola e contar causos.

Gente humilde, que ri, que chora, que amanhece com uma prece, que saúda qualquer um que chega, que com pouco acolhe, que pragueja e se benze.

Se vê chão batido, rima com poeira, e ao asfalto, com canseira, mas também com gafieira,

ou não rima, lembra de passarela e abre alas pro samba passar.

Se de bom ou de ruim, vê poesia em tudo que esse país faz.

Como será daqui pra frente?

Que não teremos mais Rolando, vamos sós, buscando um Brasil nas telas, que só Boldrin mostrava.

Eita vida marvada! Que um dia se acaba!

Leva o Senhor Brasil e deixa essa brasileira suzinha ruminando na estrada.

Sua passagem, Rolando, me trouxe saudade do meu pai.

Que saudade do meu pai!

Os alicerces da minha construção estão indo todos embora, fico aqui balangando, de lá pra cá, me procurando, sou a bêbada equilibrista.

Uma vontade doida de explicar sua arte, a do Elifas, explicar Darcy Ribeiro, falar de Mazzaropi, mas pra quem?

Uma vontade doida de mostrar um Brasil que vai além da desigualdade e da violência, sair desse olho que vê macro para ver micro, ver o cotidiano, mas me vem a lembrança de você naquelas manhãs me ensinando um ditado dito como certo:

Que cavalo esperto num espanta boiada.

Daqui pra frente, sem você, todo cuidado será pouco pra desse Brasil não haver debandada.

Me abençoa, Rolando,

de onde estiver, abençoa meu caminho, abençoa minha jornada,

que um dia eu possa olhar e me reconhecer a senhora Brasil,

que futucou, futucou e achou, todos os causos dessa terra pra contar,

pra mostrar que aqui tem brava gente brasileira que vence guerras com rimas e cantoria de viola,

É que a viola fala alto no meu peito, mano

E toda mágoa é um mistério fora desse plano

Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver

Chega lá em casa pro uma visitinha

Que num verso ou num reverso da vida inteirinha

Há de encontrar-me num cateretê

Há de encontrar-me num cateretê!

 

Até breve, Rolando Boldrin.

 

Eliana de Freitas
Enviado por Eliana de Freitas em 10/11/2022


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